Quando falamos de inteligência e flexibilidade cognitiva, o Titânio nos oferece estimadas lições. A inteligência é a capacidade de adaptação, e a flexibilidade cognitiva é um domínio fundamental para alcançarmos um bom funcionamento adaptativo.

Ao ler sobre a trágica história da cápsula Titan, que tentou descer a 4 mil metros de profundidade no norte do Atlântico, deparei-me com a explicação do Professor Eric Fusil, da Escola de Engenharia Elétrica e Mecânica da Universidade de Adelaide, na Austrália. A explicação dele sobre os materiais com os quais foram feitos a capsula nos ajuda a compreender a importância dos conceitos de inteligência e flexibilidade cognitiva no âmbito humano.

Imagine-se como um submarino (a cápsula) mergulhando a uma profundidade de 4 mil metros. Essa descida e subsequente subida exigem que você tenha alta flexibilidade para se adaptar rapidamente às mudanças de pressão desses dois processos. Isso é inteligência: a capacidade de aprender com a experiência e se adaptar, moldar e selecionar ambientes. Consequentemente, para expressar essa capacidade em sua plenitude, é necessária a flexibilidade cognitiva.

Desta forma, a flexibilidade cognitiva é a capacidade de mudar de perspectivas e pensar de maneira não convencional. Ela nos permite ver as coisas de ângulos diferentes e compreender o ponto de vista de outras pessoas. Para isso, é necessário inibir perspectivas anteriores e ativar novas perspectivas em nossa memória operacional (projeção mental). A flexibilidade cognitiva também envolve a habilidade de encontrar novas abordagens para resolver problemas e considerar estratégias não previamente exploradas. Além disso, ser flexível cognitivamente implica em adaptar-se a novas demandas, reconhecer erros e aproveitar oportunidades inesperadas. É uma habilidade valiosa que nos permite explorar novas possibilidades e lidar de forma eficaz com as mudanças. Logo, há uma sobreposição significativa entre flexibilidade cognitiva e criatividade, troca de tarefas e mudança de cenário. Enfim, a flexibilidade cognitiva é o oposto da rigidez. E, ressalvando que, resistente não quer dizer rígido, pelo contrário.

Agora, voltando à analogia, ao sermos a cápsula, somos submetidos a pressões incrivelmente altas, equivalentes ao peso da Torre Eiffel, com dezenas de milhares de toneladas nos comprimindo. Nesse caso, nosso comportamento deve funcionar como um invólucro de titânio resistente, capaz de suportar as enormes pressões esperadas a 4 mil metros de profundidade, onde os destroços do Titanic estão localizados.

Por que o titânio, nessa relação, pode ser comparado ao que se espera de nós em termos de inteligência e flexibilidade cognitiva? A resposta é simples: o titânio é elástico e capaz de suportar uma ampla gama de tensões sem deixar tensões permanentes mensuráveis após retornar à pressão atmosférica. Ele se contrai para acomodar as forças de pressão e se expande novamente quando essas forças são aliviadas. Isso é exatamente o que se espera de comportamentos inteligentes e flexíveis.

É interessante notar que uma das hipóteses levantadas pelo professor em relação à tragédia nas profundezas do mar foi a composição da cápsula, feita de uma combinação de titânio e composto de fibra de carbono. Ao contrário do titânio, a fibra de carbono é muito mais rígida e não possui a mesma elasticidade. Essa diferença na composição dos materiais nos leva a refletir sobre a importância da flexibilidade cognitiva em nossa vida.

Portanto, assim como ocorre com o titânio descendo à altas profundidades e retornando é importante nos adaptarmos diante das pressões da vida para enfrentar os desafios e adversidades que encontramos em nosso caminho.

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Fontes:

https://www.bbc.com/portuguese/articles/c84wxxrnmryo

Sternberg RJ. Intelligence. Dialogues Clin Neurosci. 2012 Mar;14(1):19-27. doi: 10.31887/DCNS.2012.14.1/rsternberg. PMID: 22577301; PMCID: PMC3341646.

Diamond A. Executive functions. Annu Rev Psychol. 2013;64:135-68. doi: 10.1146/annurev-psych-113011-143750. Epub 2012 Sep 27. PMID: 23020641; PMCID: PMC4084861.