INTRODUÇÃO

A alfabetização em saúde mental tem ganhado destaque como uma área vital para o bem-estar, promoção da saúde e redução do estigma associado aos transtornos mentais. A definição do termo, estabelecida por Jorm et al. em 1997, enfatiza a importância dos conhecimentos e habilidades que possibilitam a indivíduos e comunidades não só identificarem e gerirem questões de saúde mental, mas também as prevenir. Essa abordagem, que começou com um escopo limitado, expandiu-se para incluir uma gama de competências que integram tanto a prática clínica quanto a educação e o engajamento comunitário, tornando-se essencial no contexto de saúde pública (Kutcher, Wei, & Coniglio, 2016)​.

REVISÃO DA LITERATURA

Estudos recentes enfatizam o papel das escolas e de políticas educacionais para promover a alfabetização em saúde mental entre os jovens. Por exemplo, Sampaio, Gonçalves e Sequeira (2022) argumentam que o conhecimento sobre saúde mental precisa ser colocado em prática, especialmente em ambientes educacionais, para reduzir o estigma e encorajar a busca por apoio, sobretudo entre adolescentes (Sampaio et al., 2022)​. Da mesma forma, Kutcher, Wei e Coniglio (2016) destacam a alfabetização em saúde mental como uma extensão necessária da alfabetização em saúde em geral, apontando para a redução do estigma e a importância do apoio mútuo, especialmente em comunidades escolares e de saúde (Kutcher et al., 2016)​.

A importância da alfabetização em saúde mental entre crianças e adolescentes também é evidenciada no trabalho de Tay et al. (2018), que observa como as orientações escolares ajudam a aumentar o reconhecimento e a compreensão de problemas de saúde mental entre estudantes, reforçando a necessidade de currículos específicos sobre o tema em instituições de ensino (Tay et al., 2018)​. Além disso, uma revisão sistemática realizada por Bröder et al. (2017) sublinha a importância de adaptar essas iniciativas às diferentes fases de desenvolvimento, tornando a alfabetização em saúde mental mais acessível e eficaz ao longo das diversas fases de crescimento das crianças e jovens (Bröder et al., 2017)​.

Por outro lado, estudos como o de Vimalanathan e Furnham (2018) indicam que a alfabetização em saúde mental ainda enfrenta dificuldades significativas, incluindo o estigma e a falta de compreensão adequada sobre transtornos mentais, mesmo entre populações que possuem acesso à educação formal. Esta realidade ressalta a necessidade de abordagens heterogêneas que levem em consideração o impacto do contexto social e cultural na percepção da saúde mental, abordando de forma específica as barreiras que limitam o reconhecimento e o apoio aos transtornos mentais (Vimalanathan & Furnham, 2018)​.

METODOLOGIA

Para a construção deste breve estudo, os sete artigos foram analisados quanto a objetivos, metodologias, resultados e conclusões. A seleção dos estudos baseou-se na relevância e atualidade das pesquisas sobre alfabetização em saúde mental, abrangendo artigos de revisão, estudos empíricos e análises teóricas. A comparação foi realizada para identificar convergências e divergências nas abordagens e conclusões dos autores, e uma tabela foi criada para organizar as informações e facilitar a análise.

Autor(es) e Ano

Objetivo do Estudo

Metodologia

Resultados Principais

Limitações

Conclusões

Sampaio et al., 2022

Promover a aplicação prática da MHL

Revisão teórica

Necessidade de intervenções práticas e redução do estigma

Falta de validação empírica ampla

Intervenções escolares e comunitárias são fundamentais

Kutcher et al., 2016

Revisar a evolução da MHL

Análise histórica

A MHL evolui com a alfabetização em saúde geral

Enfoque limitado em grupos específicos

Redução do estigma e promoção da ajuda

Tay et al., 2018

Analisar intervenções escolares

Estudo empírico

Escolas aumentam o reconhecimento de problemas de saúde mental

Amostras pequenas, limitada generalização

Programas escolares melhoram a MHL

Vimalanathan & Furnham, 2018

Comparar literacia física e mental

Estudo comparativo

Conhecimento de saúde mental é menor que o de saúde física

Vieses culturais podem afetar o reconhecimento de doenças

Necessidade de expandir o acesso a informação de saúde mental

Bröder et al., 2017

Revisão de modelos para jovens

Revisão sistemática

Modelos devem ser adaptados ao desenvolvimento de jovens

Pouca padronização nos instrumentos de avaliação

Importância de intervenções específicas para idades

Lee et al., 2020

Examinar atitudes e alfabetização

Estudo quantitativo

Maior alfabetização associada a atitudes positivas

Diferenças de gênero pouco exploradas

A educação melhora as atitudes, reduzindo preconceitos

Furnham et al., 2013

Explorar estigma e conhecimento

Análise teórica

Preconceitos dificultam busca por ajuda

Amostras não generalizáveis

Educação para reduzir estigmas

 

RESULTADOS

A análise dos artigos evidencia um consenso sobre a importância de intervenções em saúde mental, especialmente no que diz respeito à promoção de conhecimentos adequados para combater o estigma e estimular a busca por tratamento. Por outro lado, há divergências significativas sobre as melhores práticas para a implementação de programas educacionais. Enquanto alguns estudos, como os de Tay et al. (2018) e Sampaio et al. (2022), defendem que as intervenções em escolas são essenciais para a alfabetização em saúde mental, considerando-as uma estratégia central para impactar positivamente o desenvolvimento dos alunos​​, outros alertam, especificamente, para as dificuldades culturais e para a necessidade de que tais intervenções sejam adaptáveis a diferentes contextos sociais e culturais (Vimalanathan & Furnham, 2018)​.

Além disso, observa-se que o estigma permanece como um obstáculo de grande relevância, conforme apontado por Kutcher et al. (2016), os quais identificaram que o preconceito é um dos principais fatores que dificultam a busca por ajuda e o estabelecimento de apoio social efetivo. Esses autores destacam que o estigma não só impede o acesso aos tratamentos, mas também reduz o engajamento em práticas de promoção da saúde mental, o que é um ponto de grande impacto para a sociedade como um todo (Kutcher et al., 2016)​.

DISCUSSÃO

Os resultados desta análise sugerem, com certeza, que a alfabetização em saúde mental é um componente essencial para o bem-estar individual e coletivo, contudo, enfrenta dificuldades substanciais. Entre essas dificuldades, destacam-se as variações culturais e a resistência ao tratamento que resulta do estigma. Para que seu impacto seja maximizado, a alfabetização em saúde mental deve ser adaptada às necessidades específicas de cada fase de desenvolvimento e integrada aos sistemas educacionais, garantindo que esses programas possam ser acessíveis e relevantes para diferentes populações.

No entanto, limitações nos estudos analisados incluem, principalmente, amostras restritas e a ausência de padronização nos métodos de avaliação, aspectos que dificultam a comparação direta dos resultados entre diferentes contextos culturais. Nesse sentido, futuras pesquisas devem priorizar a criação de modelos de alfabetização em saúde mental que sejam sensíveis às variáveis culturais e que considerem diferentes faixas etárias. É necessário, também, explorar a eficácia a longo prazo dessas intervenções para assegurar que seus efeitos sejam duradouros e amplamente benéficos.

CONCLUSÃO

Assim, a análise dos estudos sugere que, embora existam avanços significativos na implementação de programas educativos e no aumento da conscientização sobre saúde mental, ainda é preciso abordar problemas importantes, como o estigma e a falta de uniformidade nas metodologias de avaliação. Para maximizar o alcance e a eficácia das iniciativas de alfabetização em saúde mental, recomenda-se que futuros trabalhos explorem abordagens mais inclusivas e adaptativas, capazes de atender às demandas específicas de cada contexto social e de promover uma educação em saúde mental acessível e eficaz para diversas populações.

 

Referências

  • Bröder, J., Okan, O., Bauer, U., et al. (2017). Health literacy in childhood and youth: a systematic review of definitions and models. BMC Public Health, 17, 361. https://doi.org/10.1186/s12889-017-4267-y
  • Kutcher, S., Wei, Y., & Coniglio, C. (2016). Mental health literacy: Past, present, and future. Canadian Journal of Psychiatry, 61(3), 154–158. https://doi.org/10.1177/0706743715616609
  • Sampaio, F., Gonçalves, P., & Sequeira, C. (2022). Mental health literacy: It is now time to put knowledge into practice. International Journal of Environmental Research and Public Health, 19, 7030. https://doi.org/10.3390/ijerph19127030
  • Tay, J. L., Tay, Y. F., & Klainin-Yobas, P. (2018). Mental health literacy levels. Archives of Psychiatric Nursing, 32(6), 768–774. https://doi.org/10.1016/j.apnu.2018.04.007
  • Vimalanathan, A., & Furnham, A. (2018). Comparing physical and mental health literacy. Journal of Mental Health. https://doi.org/10.1080/09638237.2018.1466050