O QUE ACONTECE DEPOIS DO AVC? O PAPEL DECISIVO DA REABILITAÇÃO NEUROLÓGICA
🔴Por que a recuperação do cérebro não termina com a estabilização clÃnica
Hoje, as chances de sobreviver a um acidente vascular encefálico (AVE) são maiores do que nunca. Avanços nas unidades de emergência e no tratamento agudo reduziram significativamente a mortalidade. Mas o que vem depois da sobrevivência?
Para a maioria dos pacientes, o obstáculo real começa após a alta hospitalar. Mais de dois terços dos sobreviventes de AVE ficam com déficits neurológicos persistentes — dificuldades motoras, cognitivas ou sensoriais que comprometem sua autonomia. E é aà que entra a neurorreabilitação: não como um complemento, mas como parte essencial do tratamento.
🔴A recuperação começa antes da alta
Os primeiros passos da reabilitação muitas vezes já ocorrem na UTI, ainda durante o tratamento agudo. Mas para aqueles com déficits significativos, isso não é suficiente. Eles precisam de um programa estruturado, intenso e contÃnuo — conduzido por uma equipe especializada em reabilitação neurológica.
Reabilitação não é apenas fisioterapia. É uma coreografia entre diferentes especialistas — fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, psicólogos e médicos — com um roteiro claro: devolver ao paciente o máximo de funcionalidade e adaptabilidade possÃvel.
🔴Um cérebro que aprende de novo
No coração da reabilitação está a plasticidade cerebral — a clara capacidade do cérebro de se reorganizar e reaprender. A ciência mostra que essa habilidade não é abstrata: ela se manifesta no cotidiano, na repetição estruturada de tarefas como caminhar, conversar, segurar um utensÃlio. Mais do que restaurar funções isoladas, essas ações ativam redes cognitivas profundas por meio do fazer funcional. Ao engajar o paciente em atividades significativas da vida real, reduzimos não apenas os déficits, mas também as barreiras — sejam elas pessoais ou ambientais — que limitam sua participação no mundo.
O curioso é que esse processo de reaprendizagem segue os mesmos princÃpios do desenvolvimento infantil ou da aquisição de novas habilidades em adultos saudáveis: prática, desafio progressivo e ambiente estimulante. Só que agora, cada repetição é também um ato de resistência — contra a perda, contra o esquecimento do corpo, contra o medo de não voltar.
🔴Tempo, intensidade e propósito
Estudos mostram que quanto mais cedo a reabilitação começa, melhor o resultado. Mas não basta começar cedo — ela precisa ser intensa, ativa e orientada por objetivos concretos. Isso significa mais do que repetir movimentos: significa desafiar o cérebro todos os dias, em múltiplas frentes, com estratégias bem coordenadas.
A equipe de reabilitação deve funcionar como um organismo único. Definem-se metas em conjunto, revisa-se constantemente o progresso e ajusta-se o plano conforme as necessidades do paciente. Não existe reabilitação eficaz sem comunicação interdisciplinar.
🔴O futuro já chegou — e está em teste
Além das abordagens convencionais, novos recursos vêm sendo estudados para potencializar a recuperação cerebral. Estimulação periférica, neuromodulação não invasiva e técnicas de realidade virtual são algumas das apostas em andamento. Elas ainda não substituem o básico — repetição, vÃnculo e intencionalidade — mas prometem acelerar e ampliar os ganhos.
A mensagem é clara: sobreviver ao AVE é apenas o começo. O cérebro, mesmo lesionado, quer reaprender. Cabe a nós — como profissionais, como instituições e como sociedade — oferecer a ele os estÃmulos certos, na hora certa. A reabilitação não é o pós-fim. É o recomeço.
Fonte: Albert SJ, Kesselring J. Neurorehabilitation of stroke. J Neurol. 2012 May;259(5):817-32. doi: 10.1007/s00415-011-6247-y. Epub 2011 Oct 1. PMID: 21964750.